Quinta-feira, 30 de Outubro de 2008

Finalmente o filme Blindness de Fernando Meireles, adaptação de Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago.

Alguns já consideram Fernando Meireles  um autor-cineasta e o filme tem despertado muita curiosidade, e já está a causar imensa polémica.

Este é provavelmente o livro mais difícil de ler, no sentido de ser o mais perturbador dentre os livros de Saramago. 

Para alguns de nós, incapazes de nos distanciarmos de nós mesmos, este livro representa um ataque à condição de ser cego; mas, o livro, na verdade não é nada disso. O livro é sobre a condição humana, difícil de suportar, tanto naqueles que se reveêm naquele grupo apocalíptico de sobreviventes, como naqueles que não se reveêm, de todo.

Como é que uma realidade-ficção tão limite, pode ser passada para a linguagem das imagens, segundo Fernando Meireles?

José Saramago chorou.

 

 



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Terça-feira, 28 de Outubro de 2008

 

I have to be leaving but I won't let that come between us. Ok?

Ok.


Música Air

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Sábado, 25 de Outubro de 2008

 

Uma paisagem ocre:

o deserto, à minha volta.

O ar turvado de canícula

a não deixar ver, na distância, 

a miragem...

 

 

 


Música Mariza, Deserto
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publicado por Mnemosine às 14:09 | link do post | comentar

Terça-feira, 21 de Outubro de 2008

 «Weltzchmertz» significa, em alemão, a dor do mundo.

 

 

Edvard Munch, Melancolia. 1894-95

 

«Seria melhor que não houvesse nada. Como há mais dor do que prazer na terra, toda a satisfação é somente transitória, criando novos desejos e novas infelicidades; a agonia do animal devorado é maior do que o prazer do devorador.»

Shopenhauer, citado por Jonathan Littell em As Benevolentes.  


Música Radiohead
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publicado por Mnemosine às 20:43 | link do post | comentar

Domingo, 19 de Outubro de 2008

Heart of darkness

 

Subir o rio era o mesmo que viajar para trás, até às primeiras idades do mundo, quando a vegetação transbordava da terra e as árvores reinavam. Uma torrente deserta, um grande silêncio, a floresta impenetrável. O ar quente, espesso, muito pesado, mole. A luz solar não tinha alegria.

 

O Coração das Trevas é um livro curto, mas intenso, exótico e mitómano que, desde 1920, ano da sua primeira publicação em Inglaterra, tem vindo a inspirar cinema e literatura. Foi este livro de Joseph Conrad que serviu de referência a Francis Ford Coppola, nas partes mais perturbadoras do argumento de Apocalipse Now, na década de 70.

 

A subida épica do rio Congo, até ao coração das trevas, é-nos contada pelo enigmático Marlow, marinheiro-vagabundo, de «espírito caseiro que arrastava consigo a casa - o navio; e a terra - o mar.» É Marlow quem timoneia a viagem de gentes diversas, peregrinos e indígenas canibais, mas todos vagabundos numa terra com ar de planeta desconhecido. Há um registo, visivelmente fantástico, em toda esta descrição.

 

Podíamo-nos imaginar como primeiros homens que tomassem posse de uma herança maldita a poder de angústias profundas e desmesurado esforço.

 

Assim é.  À medida que este grupo entra selva adentro vai ganhando em ferocidade, em selvajaria pura, o que vai perdendo em humanidade e em razoabilidade. A Natureza torna-se, por conseguinte, manifestação do Mal, das Trevas.

Kurtz, cujos escritos denunciavam um homem notável a princípio, preocupado com práticas idealistas do Bem, acaba, no final, por se colocar nos antípodas daqueles  mesmos ideais. Aquele que Marlow vai encontrar, já não é o Kurtz celebrado por todos; kurtz tornou-se a própria selva, a sombra, imenso na sua grandeza maligna.

Marlow regressa com os escritos que Kurtz lhe confiou à Europa; procura a prometida, a mulher que ficou e reclama ter conhecido Kurtz na sua natureza mais genuína: fecha-se o triângulo em torno de um homem formidável, a quem a floresta densa  subjugou. Malrow sobrevive a Kurtz... assim como as Trevas que Marlow reconhece a vogar à sua volta, pela Europa, no eco das últimas palavras de Kurtz: «O Horror. O Horror.»


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publicado por Mnemosine às 22:12 | link do post | comentar

Sexta-feira, 10 de Outubro de 2008

Frank Lloyd Wright, Taliesin

Frank Lloyd Wright, Taliesin

 

Querido Frank, no original Loving Frank, é um romance histórico. O primeiro da sua autora, Nancy Horan ao qual diz ter dedicado sete anos da sua vida.

Este livro baseia-se na relação de Frank Lloyd Wright e Mamah Borthwich Cheney; o famoso arquitecto americano do século XX e a intelectual, defensora dos direitos da mulher, e também tradutora de Ellen Key, respectivamente. É um livro de factos e ficção.

Ainda que seja a partir da perspectiva de Mamah Cheney que  entramos na história da luta,  sua e de Frank, pela afirmação da individualidade e da personalidade, contra a Opinião e a contingência é, todavia, na perspectiva de Frank que temos as reflecções mais contundentes: Isso nunca poderá ser perdoado num mundo de homens. Uma mulher continua a ser uma propriedade.

A sua relação nunca foi completamente aceite pela sociedade de 1900 e as suas vidas foram, até ao fim, cruelmente devastadas nos jornais da época.   Os jornais tornam-se, por conseguinte, uma fonte parcial para documentar uma personalidade complexa como a de Mamah Cheney, tanto que a autora chega a lamentar, no posfácio, a inexistência de cartas que, por certo, se tornariam fontes mais fidedignas ao serviço da ficção. 

Pelo olhar de Mamah somos introduzidos no processo de criação de Frank, nos altos e baixos da sua genialidade, na construção de Taleisin, na construção de uma vida fundada numa «verdade» fundamental - Só se vive uma vez neste mundo. Citação de Goethe.

A vida contudo é feita de ironias intangíveis. Quanto tudo se aconchega, surge a devastação num  fim imprevisível, a provar que a realidade,  muitas vezes,  supera em terror a ficção...

Frank:  Mamah e eu tivemos os nossos conflitos, as nossas diferenças, os nossos momentos de receio enciumado - nada disto escasseia em qualquer relação humana de carácter íntimo - mas serviram apenas para nos unirmos ainda mais fortes. Sentíamo-nos mais do que meramente felizes, mesmo quando momentaneamente infelizes...

A alma dela ingressou em mim e nunca se perderá.

 


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publicado por Mnemosine às 21:48 | link do post | comentar

Quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

 

Desta vez, confirmou-se os rumores dos últimos dias que apontavam para o francês Jean-Marie Gustave Le Clézio, como nome provável para o Nobel da Literatura 2008. As  razões invocadas pela academia sueca - «aventura poética», «êxtase sensual» e «explorador de uma humanidade para além (...) da civilização reinante» -, apontam para um autor que procura o entendimento da humanidade, não nos paradigmas culturais do ocidente, modelo da «civilização reinante», mas nos  paradigmas culturais das latitudes mais a sul.

É nessa relação de alteridade,  da descoberta do outro diferente, mas semelhante, naquilo que é primordial, que a humanidade pode rever-se e rever o seu caminho civilizacional.

Jean-Marie Gustave Le Clézio que é um viajante, um solitário por vocação, passou a pertencer ao mundo.

Os holofotes estão virados para si.


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publicado por Mnemosine às 14:12 | link do post | comentar

Terça-feira, 7 de Outubro de 2008

 

 

Há dias que se afunilam numa escuridão boreal,

apagam o eco e a sombra

e iluminam-se em fosforescências de chiffon.



publicado por Mnemosine às 21:27 | link do post | comentar

Sexta-feira, 3 de Outubro de 2008

 

 

Mário de Carvalho vai receber, no dia 18, deste mês de Outubro, o Prémio Internazionale Città Di Cassimo por Alferes (1989).

Alferes é uma compilação de três histórias «A última cavalgada»; «Há bens que vêm por mal» e «Era uma vez um alferes». As três têm em comum a experiência da guerra colonial servida num registo de discreta melancolia. Um dos melhores livros de contos, da sua primeira fase.



publicado por Mnemosine às 16:20 | link do post | comentar

Lê-se no blogue da revista Ler que, dia 9 de Outubro, se anunciará o Prémio Nobel da Literatura do ano 2008. Podemos imaginar uma lista de candidatos, alguns repetentes de décadas... Salman Rusdhie é o  mais jubilado, fora dos nobéis.

A academia tem, a cada ano, surpreendido e originado vozes de desacordo.  É um facto. Lembre-se o caso da última atribuição a Doris Lessing... Na próxima semana veremos se, em termos de reacções ao Nobel,  a tradição continuará a ser o que era.


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publicado por Mnemosine às 15:20 | link do post | comentar

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