Há quinze anos atrás, requisitei, na biblioteca de uma universidade, um livro. Escolhi-o, porque era o único na prateleira daquela estante e também porque este continuava sem nenhum registo de leitura. Achei que estas eram boas razões para trazer um livro comigo. O livro era Rabbit Run de John Updike. Este livro acompanhou-me durante um ano da minha vida. Foi possível ficar com ele tanto tempo, porque mais ninguém, para além de mim, mostrou interesse. Eu também não o escolheria, foi mais o livro que me escolheu. E acompanhou-me nas viagens que, na altura, fazia entre duas cidades. Quando, no fim, o devolvi, o livro já me pertencia, já me habitava.
No Verão passado, à beira duma piscina, li O terrorista. Desta vez li-o num fôlego. A razão porque voltei a John Updike, estava naquele ano de constantes viagens ao fundo do coração.
Recordei-me de tudo isto, agora que as notícias da morte do autor chegaram e, mais uma vez, confirmei que literatura é vida.
As horas ultrapassam
os segundos que são passinhos pelo chão.
Viver não vale a pena. Só olhar é que vale a pena. Poder olhar sem viver realizaria a felicidade, mas é impossível como tudo quanto costuma ser o que sonhamos. O êxtase que não incluísse a vida!...
Livro do Desassossego
Desconfio que a bondade é uma coisa tão complexa que até o uso dessa palavra deve merecer-nos alguma ponderação e desconfio também que a bondade «emerge» infinitamente devagar, se é que emerge, como um resultado escassamente visível depois de tomarmos mil e uma precauções.
Iris Murdoch. O Bom Aprendiz.
Iris. Richard Eyre.
Havia um tempo em que se chegava por um agasalho
e se pernoitava,
na companhia de um pátio.
Havia um tempo em que se conheciam
as sombras,
e não havia sussuros.
Havia um tempo em que os gatos
se roçavam nas esquinas,
a predizer malícias.
Havia um tempo em que havia tempo
e se demoravam
as tardes.
Havia um tempo, que já não houve.
All I can take from these skies is fog
And all I can see in this light is a boat sinking.
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