As aves engaioladas,
nos olhos de Ícaro,
nas órbitas humedecidas de céu celeste,
dos olhos de Ícaro.
( No Inverno, as aves não se involvem em casacos.
Quando o frio aperta, é o raio de sol,
que brilha ao longe,
que as aquece, às aves.
No tempo em que a cigarra divina,
louca de sol,
no calor escaldante do meio-dia,
entoa o seu canto estridente;
as aves entoam os seus doces estribilhos.
E o Inverno passam-no nos recantos das grutas,
na companhia das ninfas da Montanha.
Na Primavera comem bagas de mirtilo silvestre
e habitam a sombra das folhagens.)
Feliz a raça alada das aves.
Delas é o reino dos céus,
entontecidas de éter,
em voos picados,
nos olhos acuados de Ícaro.
Não tenhas medo, miúda. Em todas as histórias há sempre uma ponta de paraíso, um véu de clemência que estende uma ponta, fugaz, que seja.
A Myra dissera-lhe a sua avó Russa que os suicidas são sempre assassinados. E Myra decide o seu «assassinato» e o do seu cão, Rambo, pois compreende a impossiblidade de viver uma vida sem o confronto permanente com o Mal. Morre de artista e deixa-se cair do parapeito da janela, como se fosse um mergulhador equipado que mergulhasse de um barco para pesquisa submarina. Dizia a sua avó que nos trilhos nevados das estepes, quando sucumbes e mergulhas na neve, outros virão, pegarão nos teus pertences e continuarão a viagem por ti. Myra e Rambo, naquele asfalto, são a denúncia e o grito, legados flagrantes a quem passa.
Nas salas amplas, fechadas à vida,
ouve-se o eco dos passos
e o drapear leve das cortinas,
a esgotar-se de encontro aos quadros.
É a chuva, sempre a chuva,
a escorrer das janelas altas
e a encharcar a memória
dos dias
em que as portas se abriam
para entrar sândalo e jasmim.
De quando em quando,
o assobio do vento,
nas sacadas e varandas,
faz-se escutar.
Escuto.
O silêncio desta casa
é a mais solene das músicas.
Os óculos e as sandálias de Muhatma Ghandi foram resgatados, por um magnata Indiano, num leilão em Nova Iorque que os adquirou com o objectivo de os levar de volta à India. Consta que o líder pacifista Indiano entregou os óculos a um coronel do exército também Indiano, quando este lhe pediu inspiração. Após voltas, as voltas que o mundo tem, os óculos, juntamente com outros objectos de Ghandi, dentre os quais se incluía o seu relógio, foram parar a uma leiloeira Nova iorquina. Vê-se aqui alguma perversão de princípios morais, em relação aos quais, neste momento, têm estado envolvidas precisamente as leiloeiras. Veja-se o caso da venda das casas de Nova Iorque.
Os números do desemprego não são mais que o número de tragédias pessoais em constante multiplicação. Um dominó de consequências que alguns governos já começam a prever. É necessário agir, porque, na verdade, as medidas colocadas em prática só protegem as organizações, o sistema financeiro e económico, quando é fundamental que se encontrem medidas que protejam o ser humano. A privação, o desespero provocam desumanização, ou seja , o ser humano esvazia-se de humanidade para se encher de animalidade. Os instintos básicos passam a comandar a sua lógica de sobrevivência.
Hoje uma notícia em particular suscitou interesse: o asteróide DD45, de 30 a 40 metros de diâmetro, rasou a Terra, a uma ameaçadora proximidade de 60km a sudoeste do Pacífico Sul. O acontecimento é relevante o suficiente para a equação dos mais sombrios cenários de ficção científica; do fim em todas as escalas.
É a noite eterna do universo, a lembrar-nos que é de sempre e que lhe pertencemos.
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