Domingo, 30 de Agosto de 2009

 

A minha curiosidade irmã das cotovias.

 

Sentemo-nos aqui. Daqui vê-se mais céu.

É consoladora a expansão enorme desta altura estrelada.

Dói a vida menos ao vê-la; passa por nossa face quente da vida o aceno pequeno dum leque leve.

 

Fernando Pessoa. Livro do Desassossego.

 



publicado por Mnemosine às 14:50 | link do post | comentar

Segunda-feira, 24 de Agosto de 2009

 

O quarto era um todo febril, com vestígios de calor lunar, tão negro como o interior dum caixão enorme, a escuridão espalhava-se por todas as superfícies e, alimentando-se  das partículas duma coisa que ele nunca vira, o quarto era a coisa mais negra do mundo.

 

Yukio Mishima. O marinheiro que perdeu as graças do Mar.

 

Insónia

 

A  espessura da noite

Mancha de opacidade

Este espaço informe, o pensamento

 

Imagens  vogam, distorcidas

Na ânsia de se

Construírem, caleidoscópicas

 

O pensamento sucede-se

Busca relevos,  qualquer coisa que seja sentido

Qualquer coisa que possa ser

Um pensamento livre, sensível

Uma porção tangível de verdade

Que inunde de luar

O rosto da noite.

 

 



publicado por Mnemosine às 21:30 | link do post | comentar

Quarta-feira, 19 de Agosto de 2009

 

Era como se não houvesse nomes, aqui, como se não houvesse palavras. O deserto levava tudo no seu vento, apagava tudo. Os homens tinham a liberdade do espaço no olhar.  A areia ocre cobria todos os vestígios, todos os ossos.

 

J. M. G. Le Clézio. Deserto.

 

 

Sheltering Skies. Bernardo Bertolucci

 

 



publicado por Mnemosine às 15:27 | link do post | comentar

Segunda-feira, 17 de Agosto de 2009

 

Acordo, do meu sono claro da tarde e

Recomeço o baloiço da cadeira.

O sossego

Do alpendre chama a si um pardal

Que ali pousa, à escuta.

Aceito a sua guarda.

Recosto-me na cadeira

A respirar o perfume das laranjeiras.

 

 



publicado por Mnemosine às 21:06 | link do post | comentar

Terça-feira, 11 de Agosto de 2009

 

Às portas de Istambul  ficam

Pensamentos carregados, abandonados
À sua sorte, nos sapatos

E o chão, percorrido de tapetes

Por onde passam, a todo o momento

Gatos

Agracia os nossos passos

Os altos minaretes

Indicam a direcção de novos pensamentos

O olhar eleva-se a

Um sereno céu turquesa

E ai fica, reverenciando

As alturas das mesquitas, dos palácios,

Guardiões repousados

Em profunda meditação,

Pressentindo só a silenciosa presença

A brisa delicada do Bósforo

Empoalha de ouro a minha pele

Pelo ar, alecrim e açafrão

Parados

Uns olhos húmidos cativam os meus

Oferecem-se a uma memória

Istambul enche a minha alma de céu

Os meus-teus braços

Erguem-se ao azul

E rodopiam, ora em transes derviches,

Ora em ritmos de harém.

 



publicado por Mnemosine às 11:22 | link do post | comentar

Sábado, 1 de Agosto de 2009

 

Nunca podemos ser nós próprios: tinha acabado por compreender esta verdade primeira, que nunca mais esqueceria.

Sim, era uma vez um príncipe que descobriu o problema mais importante da vida: poder ser ele próprio ou não o conseguir. Mas quando Galip começava a imaginar as cores da história, adormeceu sentindo que se transformava noutro, e depois num homem que se afunda no sono.

 

Orhan Pamuk. Os jardins da Memória.

 



publicado por Mnemosine às 13:59 | link do post | comentar

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