Saboreia os beijos, antes das lágrimas
e saboreia as lágrimas, depois dos beijos.
Saboreia antes que se desvaneçam
num vazio feito de ruído e ausência.
Escuta o oráculo recôndito do sangue
que, das brisas suaves, recolhe
prenúncios de delícias. Escuta, antes
que as tuas mãos se esvaziem de esperança.
Respira a manhã, antes que anoiteça
e respira a noite, antes que amanheça, e
as mornas tardes da infância, num tempo
que não sabia a tempo, só a maresia.
Sente o amor, sente antes que cesse.
Quando te rodearem murmúrios
Que valor terá o teu epitáfio,
se a vida não te pertenceu.
A quietude, o silêncio
desta paisagem alagada.
As copas das árvores
rompem em tufos, arbustos rasteiros
na linha de água.
A estrada parada,
só metros adiante retomada.
O sossego deste ecrã líquido
onde, ainda há pouco,
água, raios e vento,
riscavam com fúria
um filme de destruição.
Memória de terrores ancestrais,
quando a natureza era Deusa
e tudo eram sinais.
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