- Por vezes não consigo encontrar-me nesta multidão. - dizia a pequena formiga para a sua amiga cigarra.
- Perdes o filão das tuas companheiras, é isso que queres dizer? - perguntou a cigarra, enquanto desenhava uns rabiscos na terra seca do estio.
- Somos todas iguais; a da frente é igual à de trás ... - continuou a pequena formiga.
- Se eu estivesse naquela multidão de formigas, ainda que eu seja uma cigarra, ninguém me notaria. - explicava a cigarra e dos seus rabiscos surgia um arco entre arvoredos - Quando tu estás naquela multidão e todas se mexem e muitas se movimentam e vêm nesta direcção, eu sei quando és tu que vens a chegar...
- Ali não é permitido distracções.- explicou a formiga. - Ali ninguêm vê.
- Sabes, por vezes também eu não consigo encontrar-me nesta multidão. - respondeu a pequena cigarra para a sua amiga formiga, enquanto no seu desenho um sol se elevava acima das frondes.
A formiga olhou o fio bulicioso das suas camaradas e fixou os seus olhos no desenho como num espelho de águas:
- Eu consigo ver-te dali. - disse, por fim.
E ficaram em silêncio.
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