Colecciono silêncios de abundância
silêncios de tardes calmas, de água
silêncios de escadas e de salas
momentos antes da arruada
Guardo silêncios de vozes amadas
os seus passos, o seu sossego
salvo conduto
nos dias de noite e nevoeiro
O silêncio chilreado dos pássaros
nas manhãs da infância
o bater de asas, as gaivotas
a erguerem-se em lufadas
Guardo o silêncio nos poemas
versos volteados, de mar
de pó, de setembro
silêncios meus
de horas vagas.
Aforismos de fim de Verão
de Alfredo Pérez Alencart
Si el Otro te importa más que tú: he ahí el genuino Amor.
Aunque las cosas vayan mal, enfréntate a las sombras, al dolor.
Los buenos recuerdos ayudan a celebrar la Vida.
La certeza más absoluta no puede ser la muerte.
A minha ânsia do poema sublime
Aquele que guardasse intacto
O momento dos teus olhos
Que fosse, do mundo, um lugar seguro
Que fosse, do tempo, um escudo
Um poema que estancasse
O esquecimento
Ainda que me resistam as palavras
Persisto nesse poema sublime
Esse, o único que me interessa,
O poema que há-de guardar
O momento dos teus olhos, nos meus
Do seu leito amniótico
O rio inteiro
Domina
A paisagem escandida
Por socalcos que se alongam
Num céu chumbo e sulfato
O dia a crescer em sombras
de gaivotas ululantes
de olhos pardos
sitiando
o voo rasteiro
das andorinhas traídas
pelo aguaceiro
frio
de encontro ao seu peito
plúmbeo.
Saboreia os beijos, antes das lágrimas
e saboreia as lágrimas, depois dos beijos.
Saboreia antes que se desvaneçam
num vazio feito de ruído e ausência.
Escuta o oráculo recôndito do sangue
que, das brisas suaves, recolhe
prenúncios de delícias. Escuta, antes
que as tuas mãos se esvaziem de esperança.
Respira a manhã, antes que anoiteça
e respira a noite, antes que amanheça, e
as mornas tardes da infância, num tempo
que não sabia a tempo, só a maresia.
Sente o amor, sente antes que cesse.
Quando te rodearem murmúrios
Que valor terá o teu epitáfio,
se a vida não te pertenceu.
Ser a paisagem,
Que vigia a fronde dos caminhos
Ser o ramo alto,
Que acena, competindo os pássaros
Ser o canto da cigarra e
A chuva de Verão
E o pó das estrelas
Ser antes, muito antes da hora sonhada
Ser tempo, pedra e rio
Respirar em todas as coisas
Volatizada na essência do vento,
Para que, em toda a parte,
Sem nunca, nunca me ver
Tenhas sempre,
Para sempre de me encarar.
Cultura
Actualidade