Confesso que tenho medo, mas não sei bem de quê, nem de quem. Sei que uma destas noites uma mulher muito pálida e bela baterá docemente à minha porta e me pedirá que a acompanhe, ouvindo-se em fundo uma melodia de Mozart.
É por isso que acordo tantas vezes alagado em suores frios, talvez por ter medo da única presença que me há-de libertar de tudo o que sofri e que terá corpo e rosto de mulher sem idade nem rosto visível e que me levará pela mão, (...) até onde podem ir os derradeiros sonhos de um homem que passou a vida a fugir do grande amor. (...) e acabou por ficar condenado à mais terrível das solidões.
José Jorge Letria. O Espelho de Casanova.
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