Quarta-feira, 25.11.09

 

KUBLAI KAN: - Não sei quando tiveste tempo para visitar todos os países que me descreves. Eu acho que tu nunca saíste deste jardim.

 

POLO: - Cada coisa que vejo e faço toma sentido num espaço da mente onde reina a mesma calma daqui, a mesma penumbra, o mesmo silêncio percorrido pelo estalar das folhas. No momento em que me concentro a reflectir, dou comigo sempre neste jardim, a esta hora da tarde, na tua augusta presença, embora continuando sem um instante de pausa a subir um rio verde de crocodilos ou a contar os barris de peixe salgado que colocam no porão.

 

Italo Calvino, Cidades Invisíveis.



publicado por Mnemosine às 20:37 | link do post | comentar

Sábado, 01.08.09

 

Nunca podemos ser nós próprios: tinha acabado por compreender esta verdade primeira, que nunca mais esqueceria.

Sim, era uma vez um príncipe que descobriu o problema mais importante da vida: poder ser ele próprio ou não o conseguir. Mas quando Galip começava a imaginar as cores da história, adormeceu sentindo que se transformava noutro, e depois num homem que se afunda no sono.

 

Orhan Pamuk. Os jardins da Memória.

 



publicado por Mnemosine às 13:59 | link do post | comentar

Sábado, 14.03.09

 

Nas salas amplas, fechadas à vida,

ouve-se o eco dos passos

e o  drapear leve das cortinas,

a  esgotar-se de encontro aos quadros.

É a chuva, sempre a chuva,

a escorrer das janelas altas

e a encharcar a memória

dos dias

em que as portas se abriam

para entrar sândalo e jasmim.

De quando em quando,

o assobio do vento,

nas sacadas e varandas,

faz-se escutar.

Escuto.

 

O silêncio desta casa

é a mais solene das músicas.

 

 


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Segunda-feira, 09.02.09

 

O universo, todo em noite,

ilumina

o escuro dos  bolsos

onde as mãos se perturbam,

sonâmbulas,

a vigiar a vida.

 

Antes dormissem,

o esquecimento das pedras

que, do chão, prescutam o céu.

Mas não.

 

 


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Quarta-feira, 04.02.09

 

De súbito,

a sala cheia de gente indigente,

doente.

 

Desinteressada e alheada,

a rodear

a cadeira

que enlouquece,

imobilizada.

 

 

 


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publicado por Mnemosine às 19:21 | link do post | comentar

Segunda-feira, 12.01.09

 

Havia um tempo em que se chegava por um agasalho

e se pernoitava,

na companhia de um pátio.

Havia um tempo em que se conheciam

as sombras,

e não havia sussuros.

Havia um tempo em que os gatos

se roçavam nas esquinas,

a predizer malícias.

Havia um tempo em que havia tempo

e se demoravam

as tardes.

Havia um tempo, que já não houve.


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publicado por Mnemosine às 17:11 | link do post | comentar

Domingo, 28.12.08

 

Somos feitos da substância do tempo. Somos a nossa memória e vivemos dentro da nossa cabeça.


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publicado por Mnemosine às 17:44 | link do post | comentar

Terça-feira, 25.11.08

 

 

 

Viajar, num dia de gaivotas,

à tua cidade.

E ficar...

E depois voltar.

 

 


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publicado por Mnemosine às 18:44 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Sábado, 22.11.08

- Por vezes não consigo encontrar-me nesta multidão. - dizia a pequena formiga para a sua amiga cigarra.

- Perdes o filão das tuas companheiras, é isso que queres dizer? - perguntou a cigarra, enquanto desenhava uns rabiscos na terra seca do estio.

- Somos todas iguais; a da frente é igual à de trás ... - continuou a pequena formiga.

- Se eu estivesse naquela multidão de formigas, ainda que eu seja uma cigarra,  ninguém me notaria. - explicava a cigarra e dos seus rabiscos surgia um arco entre arvoredos - Quando tu estás naquela multidão e todas se mexem e muitas se movimentam e vêm nesta direcção, eu sei quando és tu que vens a chegar...

- Ali não é permitido distracções.- explicou a formiga. - Ali ninguêm vê.

- Sabes, por vezes também eu não consigo encontrar-me nesta multidão. - respondeu a pequena cigarra para a sua amiga formiga, enquanto no seu desenho um sol se elevava acima das frondes.

A formiga olhou o fio bulicioso das suas camaradas e fixou os seus olhos no desenho como num espelho de águas:

- Eu consigo ver-te dali. - disse, por fim.

E ficaram em silêncio.

 

 


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publicado por Mnemosine às 18:29 | link do post | comentar

Sábado, 25.10.08

 

Uma paisagem ocre:

o deserto, à minha volta.

O ar turvado de canícula

a não deixar ver, na distância, 

a miragem...

 

 

 


Música Mariza, Deserto
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publicado por Mnemosine às 14:09 | link do post | comentar

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