Waiting here, by the river
Always failing to remember why we came
I wonder why we came
You talk to me as if from a distance
And I reply with impressions from another time
senhora, por bem, livrai-me do
excesso e de tudo o que for vazio de amor.
e se alguém me espera
e não me quer bem, senhora, livrai-me:
não interessa quem.
(...) senhora, por deus, livrai-me de mim
que tenho comigo as luas e as marés
e o apelo do mar sem fim.
antes de te conhecer: existias nas árvores e
nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde
muito longe de mim, dentro de mim, tu eras a claridade
José Luis Peixoto
Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamante,
Creio em amores lunares com piano de fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio nun céu futuro ue houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Creio na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Amém.
Do seu leito amniótico
O rio inteiro
Domina
A paisagem escandida
Por socalcos que se alongam
Num céu chumbo e sulfato
O dia a crescer em sombras
de gaivotas ululantes
de olhos pardos
sitiando
o voo rasteiro
das andorinhas traídas
pelo aguaceiro
frio
de encontro ao seu peito
plúmbeo.
A quietude, o silêncio
desta paisagem alagada.
As copas das árvores
rompem em tufos, arbustos rasteiros
na linha de água.
A estrada parada,
só metros adiante retomada.
O sossego deste ecrã líquido
onde, ainda há pouco,
água, raios e vento,
riscavam com fúria
um filme de destruição.
Memória de terrores ancestrais,
quando a natureza era Deusa
e tudo eram sinais.
KUBLAI KAN: - Não sei quando tiveste tempo para visitar todos os países que me descreves. Eu acho que tu nunca saíste deste jardim.
POLO: - Cada coisa que vejo e faço toma sentido num espaço da mente onde reina a mesma calma daqui, a mesma penumbra, o mesmo silêncio percorrido pelo estalar das folhas. No momento em que me concentro a reflectir, dou comigo sempre neste jardim, a esta hora da tarde, na tua augusta presença, embora continuando sem um instante de pausa a subir um rio verde de crocodilos ou a contar os barris de peixe salgado que colocam no porão.
Italo Calvino, Cidades Invisíveis.
Sem nos tomarem por estranhos, as gaivotas deambulam no passeio, a nosso lado.
É como se os pássaros fossem animados de uma sabedoria instintiva que aceita o convívio das diferenças, quando reservadas são as distâncias.
Acordo, do meu sono claro da tarde e
Recomeço o baloiço da cadeira.
O sossego
Do alpendre chama a si um pardal
Que ali pousa, à escuta.
Aceito a sua guarda.
Recosto-me na cadeira
A respirar o perfume das laranjeiras.
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