A quietude dum dia de Domingo
na minha cidade.
E no, entanto, dói-me o casario visto deste lado do rio.
Impossível
quantificar a solidão que albergam estas janelas.
E a ponte, tão espectral,
como não atravessá-la,
sem pensar naqueles que pararam a meio,
abriram os braços e se lançaram num voo
sobre o rio.
As mãos caprichosas duma criança
edificaram esta cidade-lego,
tão burguesa de si, que esqueceu os seus marinheiros.
A minha cidade não vê os seus marinheiros,
quando eles estão por toda a parte.
Encontramo-los atrás
dos seus olhos queimados de sal,
das suas barbas mal escanhoadas,
dos seus rostos vazios de esperança
nas ruas, tendo por companhia as gaivotas.
Invisíveis.
Por eles passam casais de namorados.
Penso nos marinheiros desta cidade
como se pensasse em mim.
A maravilha num gesto criador
Um punhado de areia,
A esvair-se da minha mão
Lentamente, grão a grão,
A cair num montinho terno,
Quase sobranceiro
Que o vento arrasa, em fúria
Grãos de areia solta,
Trânsito de todas as eras
A escoar para dentro dos meus dias
Ao ritmo dos poentes
Dos ventos
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