Nem só lamas, nem só lodos ...
Colecciono silêncios de abundância
silêncios de tardes calmas, de água
silêncios de escadas e de salas
momentos antes da arruada
Guardo silêncios de vozes amadas
os seus passos, o seu sossego
salvo conduto
nos dias de noite e nevoeiro
O silêncio chilreado dos pássaros
nas manhãs da infância
o bater de asas, as gaivotas
a erguerem-se em lufadas
Guardo o silêncio nos poemas
versos volteados, de mar
de pó, de setembro
silêncios meus
de horas vagas.
De silêncio me grito e me dilato
Nas frases blateradas pelo Mundo
A ter de ser, serei, mas pouco exacto
Nas coisas que, ignorando, me aprofundo.
Fui rei enquanto fui vagabundo,
Sem ter de atraiçoar meu ar pacato.
Vivi a Eternidade num segundo,
Tendo sido a nudez meu próprio fato.
Das rosas não senti o seu perfume...
Das paixões, nem o gelo,nem o lume...
De mim, talvez a alma como emblema...
Por isso é que me grito de mudez
E a esse Ser Sublime que me fez
Eu entrego o Silêncio num poema!
15 de Fevereiro de 2002
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