Às portas de Istambul ficam
Pensamentos carregados, abandonados
À sua sorte, nos sapatos
E o chão, percorrido de tapetes
Por onde passam, a todo o momento
Gatos
Agracia os nossos passos
Os altos minaretes
Indicam a direcção de novos pensamentos
O olhar eleva-se a
Um sereno céu turquesa
E ai fica, reverenciando
As alturas das mesquitas, dos palácios,
Guardiões repousados
Em profunda meditação,
Pressentindo só a silenciosa presença
A brisa delicada do Bósforo
Empoalha de ouro a minha pele
Pelo ar, alecrim e açafrão
Parados
Uns olhos húmidos cativam os meus
Oferecem-se a uma memória
Istambul enche a minha alma de céu
Os meus-teus braços
Erguem-se ao azul
E rodopiam, ora em transes derviches,
Ora em ritmos de harém.
Nunca podemos ser nós próprios: tinha acabado por compreender esta verdade primeira, que nunca mais esqueceria.
Sim, era uma vez um príncipe que descobriu o problema mais importante da vida: poder ser ele próprio ou não o conseguir. Mas quando Galip começava a imaginar as cores da história, adormeceu sentindo que se transformava noutro, e depois num homem que se afunda no sono.
Orhan Pamuk. Os jardins da Memória.
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